Pitinga e a História da Antiga Comunidade Pesqueira

 Pitinga é o nome de uma localidade no município de Candeias e é caracterizada por abrigar um importante e extenso manguezal, um ecossistema costeiro valioso onde ocorre a transição entre os ambientes terrestres e marinhos.

 Aqui, o rio São Paulo é visto como um dos principais pontos de pesca da cidade, já a represa São Paulo, que fica nas proximidades da estação coletora de petróleo São Paulinho, deságua nesse mesmo estuário, formando um canal que possui a sua foz na Baía de Todos-Os-Santos. O Rio São Paulo, historicamente, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento e povoamento do município de Candeias. Sua importância está diretamente ligada ao fato de que ele serviu como uma rota de transporte vital para embarcações que navegavam da capital, Salvador, até a igreja matriz local.

 Essas embarcações traziam romeiros que vinham da capital com o objetivo de participar de rezas e procissões na igreja matriz de Candeias. Esse fluxo de pessoas não apenas impulsionou o crescimento da comunidade local, mas também contribuiu para a criação de uma cultura religiosa e socialmente rica na região, moldando sua identidade ao longo do tempo. 

 Além disso, o Rio São Paulo provavelmente desempenhou um papel importante na economia local, possibilitando o transporte de mercadorias e facilitando o comércio entre Candeias e outras áreas ao longo do rio e da costa; portanto, a importância desse rio vai além de suas características geográficas, sendo um elemento fundamental na história, no desenvolvimento econômico e na cultura da região de Candeias.

 Pescadores e marisqueiros de várias localidades, incluindo Candeias, ilha de Maré, São Francisco do Conde e Madre de Deus, exploram os manguezais de Pitinga, obtendo diversos produtos, como caranguejo, siri, camarão, ostra, rala coco, peixes e outros crustáceos e moluscos.

 A narrativa destaca a Fonte do Cabula, uma nascente de água doce em Pitinga, frequentada por pessoas que realizam atividades pesqueiras e banhistas que retornam da praia de Madre de Deus.

 A localidade abriga a Estação Pitinga, parte do sistema de produção de gás associado ao petróleo. Este gás é comprimido e reinjetado nos poços para manter ou melhorar a produção.

 Apesar dos impactos ambientais, como a presença de produtos químicos derivados do petróleo e esgotos domésticos, a área ainda abriga uma variedade de espécies, embora muitas estejam contaminadas devido à atividade humana.

 Uma imagem menciona o apicum conhecido como "Prainha", onde as pessoas se divertem durante as marés altas. Essa área é descrita como um local popular para atividades recreativas.

 Tudo isso fornece uma visão rica da interação complexa entre a comunidade local, o meio ambiente e as atividades industriais em Pitinga, destacando tanto os aspectos positivos quanto os desafios enfrentados pela região.

 O rio São Paulo, que era uma fonte vital de alimentação para os moradores locais. Uma diminuição significativa das espécies marinhas vem ocorrendo devido a desastres ambientais recentes. A contaminação causada por indústrias próximas e a falta de saneamento básico contribuíram para esse declínio.

A poluição química proveniente de derramamentos industriais foi identificada como um problema sério.  

 O lançamento de produtos químicos nas águas impacta a flora, compromete a fauna e suspende as atividades pesqueiras sempre que ocorrem derrames que degradam o rio São Paulo.

Estudos realizados em 2010 revelaram uma alta concentração de despejos químicos provenientes das indústrias na região do rio São Paulo. Essa poluição afeta o ecossistema, prejudicando a flora e comprometendo a sobrevivência de espécies marinhas.

Concentrações elevadas de metais como ferro (Fe), zinco (Zn), manganês (Mn), cobre (Cu), níquel (Ni) e alumínio (Al) na região de manguezal comprometem moluscos bivalves e crustáceos. Essas espécies são essenciais para a subsistência da população ribeirinha.

A poluição impacta diretamente as atividades pesqueiras, com a suspensão imediata sempre que ocorrem derrames prejudiciais. Além disso, o lançamento de esgotos domésticos devido à falta de saneamento básico agrava a poluição do estuário.

 Durante os anos mencionados, a área de Pitinga era habitada por moradores que, em sua maioria, recebiam pouca assistência do poder público de Candeias. No entanto, destaca-se que a Petrobras, que estava presente na região, proporcionava alguma assistência aos moradores. Isso incluía transporte para necessidades como assistência médica, compras e educação, com a empresa 

 Os moradores de Pitinga contavam com fontes naturais chamadas de bicas e minadores para o abastecimento de água. A Petrobras até criou uma bica artificial para facilitar o acesso à água de uma das nascentes.

 Havia também o cultivo de uma variedade de frutas, incluindo banana, goiaba, cajá, jenipapo, entre outras. Além disso, a mandioca era ultilizada na produção de farinha. As casas de farinha eram uma presença comum na região, indicando a importância da produção local. O cultivo não apenas cultivavam para o consumo próprio, mas também para o comércio. A colheita era vendida em Salvador, com os moradores envolvidos na colheita recebendo uma parte do dinheiro.

Quanto à necessidade de assistência médica, a localidade chamada "Campo" havia um pequeno posto de saúde que oferecia atendimento médico à pequena comunidade.

A região sempre abrigou uma diversidade da fauna, como: o lobo-guará, veado, jaguatirica, gato-do-mato-pequeno, cachorro-do-mato, guaxinim, além de outros mamíferos e uma diversidade de aves. Parte dessas espécies foram sendo predadas por humanos, já que a fiscalização dos órgãos ambientais agem de forma ineficiente em favor da fauna no município.

No próximo vídeo, vocês irão acompanhar um pouco da movimentação de animais silvestres na região. Lembrando que diversas espécies se abrigam nessa região, e por se tratar de uma área de área de vegetação variada, exige-se um cuidado especial, o manguezal com suas especialidades, contando também com as nascentes de água que correm em direção a Pitinga, desaguando na Baía de Todos-Os-santos. 

No vídeo a seguir, um trabalho de monitoramento de animais silvestres realizado pelo Canal Verde Água no local que registou uma família de jaguatirica (Leopardus pardalis), um animal que ainda corre risco de extinção e que no passado milhares desses indivíduos foram sacrificados por caçadores que tinham interesse na pele do felino para meios comerciais ilegais. Outras espécies que ainda ocupam essa degradada região aos poucos vem sendo monitoradas pelo ambientalista Gilmar de Oliveira, morador, nascido e criado em Candeias.

Mais características do local

Vestígios de Engenho de Açúcar: A presença de belas palmeiras imperiais na área sugere a possibilidade de um antigo engenho de açúcar. Ruínas de um casarão antigo nas proximidades também indicam a presença de uma estrutura que pode ter sido um engenho. Moradores mais antigos afirmam que ali funcionava um engenho de açúcar, mas o nome específico ainda é desconhecido.

Indenização pela Petrobras em 1972: Em 1972, devido às atividades petrolíferas na região, a Petrobras decidiu indenizar os moradores de Pitinga devido à descoberta de novos poços de petróleo na área. Os moradores foram informados sobre a indenização, levando-os a extrair suas plantações, pois a Petrobras planejava usar a área para diversos fins.

Transformações na Paisagem: A notícia da indenização levou os moradores a se prepararem para as transformações na paisagem, com a Petrobras planejando nivelar a área onde as residências estavam localizadas para futuros usos.

Manguezal dos Três Tubos: A próxima imagem destaca o manguezal dos Três Tubos em Pitinga, nomeado pelos próprios moradores. Essa área é rica em frutos do mar, especialmente caranguejos e siris de mangue, sendo uma fonte importante para os vendedores de caranguejo de Candeias.

 O canal divide a área de Pitinga, em Candeias, e o Coqueiro Grande, em São Francisco do Conde. Ambas as regiões são frequentadas por marisqueiros e pescadores, proporcionando espaços de pesca importantes.

 Até meados dos anos 1980, o Coqueiro Grande abrigava uma pequena vila de moradores próximo ao Portão 3 da Refinaria Landulpho Alves (RLAM). Com a expansão da refinaria, essa vila foi desapropriada para permitir o crescimento da empresa.

Atualmente, parte de Pitinga está sendo gradualmente ocupada por refugiados que chegaram a Candeias e encontraram abrigo na área. Esses moradores construíram cabanas de palha e barro, próximo à antiga EMIC, antes da entrada do manguezal-três-tubos. As invasões vem provocando um certo desequilíbrio ambiental; alguns locais sendo destruídos por queimadas e desmatamentos. A ocupação de pessoas em lugares de abrigo da fauna silvestre pode ter várias consequências negativas tanto para os humanos quanto para os animais. As espécies podem ser perturbadas pelos humanos gerando também a perca de seu habitat e perdendo recursos como a água e os alimentos, além do estresse que pode ser causado nesses animais; humanos também podem ser atacados por eles, além dos animais domésticos que se tornam vulneráveis de serem predados pelos silvestres, além de outros riscos como a transmissão de doenças, perde de serviços ecossistêmicos que podem influenciar na regulação do clima, purificação da água e polinização de culturas; e por se tratar de áreas de manguezais, pode-se gerar ainda mais riscos para esse ecossistema em caso de contaminação, tanto do solo quanto dos seres viventes, crustáceos, moluscos, peixes, além de outros.

 Um dos desafios mencionados é que algumas dessas cabanas estão localizadas muito próximas a tubulações de gás e petróleo, representando riscos potenciais de segurança devido à inflamabilidade da área.

Quer saber mais sobre Pitinga e rio São Paulo? Clique na imagem abaixo e saiba tudo sobre a balsa que atracava nessa localidade até a década de 90, e qual era o seu objetivo.