Os frutos atraíram principalmente espécies onívoras (66,6%), e dessas tangara palmarum, tangara cayana, turdus leucomelas e dacnis cayana foram responsáveis por 64,16% do total das visitas, seguidas por frugívoros especialistas, com 13,32% das visitas. Os encontros agonísticos entre as aves visitantes foram pouco freqüentes, tendo sido Tangara palmarum e Turdos leucomelas as espécies agressoras e que afugentaram as outras espécies envolvidas. Foram observados encontros agonísticos interespecíficos entre Tangara palmarum e Myiozetetes similis e T. leucomelas e Saltator maximus.
A grande produção de pequenos frutos carnosos, visíveis e de fácil acesso, além do elevado número de visitas alimentares realizadas principalmente por aves onívoras, indica que M. prasina é uma espécie generalista quanto ao processo de dispersão, estratégia típica de plantas de matas secundárias (Howe et al. 1985).
De acordo com Ortiz-Pullido et al. (2000), as aves onívoras geralmente habitam ambientes alterados, podendo contribuir na recuperação natural da vegetação ao transportar os diásporos entre esses ambientes. As aves que engolem frutos inteiros sem mascar, como os representantes das famílias Pipridae, Tyrannidae,
Turdidae e Vieronidae, que contribuíram com 33,53% das visitas, são consideradas eficientes dispersoras, uma vez que possibilitam que todas as sementes contidas nos frutos possam ser transportadas e dispersas para longe das plantas de origem (Pizo 1997).O comportamento de mascar os frutos, observado entre os representantes da família Thraupidae na área de estudo, pode favorecer o descarte de sementes sob a planta mãe, uma vez que nem todas as sementes são ingeridas (Moermond & Denslow 1985). Entretanto, como os pequenos frutos de miconia prasina possuem elevado número de sementes que não são facilmente separadas da polpa, quando esses são mascados, boa parte das sementes são engolidas e assim transportadas para outros ambientes. Esse comportamento já foi relatado para outras espécies de Thraupidae, consumindo pequenos frutos das espécies Rapanea ferruginea (Pascotto 2007) e Ficus organensis (Silva 2010).
Nesse contexto, podemos destacar T. palmarum e T. cayana, responsáveis por 39,96 % das visitas, como aves importantes para dispersão de M. prasina. Embora tenham sido relatados encontros agonísticos (T. palmarum, T. leucomelas, M. similis), a baixa freqüência sugere que esses encontros não tenham interferido no processo de dispersão de M. prasina. Por outro lado, Pizo (1997) reportou que em Cabralea canjerana, T. leucomelas foi uma das espécies de maior agressividade, impedindo a aproximação de outras aves potencialmente dispersoras, sendo um fator negativo para a dispersão. No presente trabalho, a reduzida ocorrência de encontros agonísticos, observados diante do elevado número de visitas alimentares, pode estar relacionada tanto à abundância de frutos da espécie estudada como à disponibilidade de outros recursos alimentares na área. Durante o período de estudo, foi verificada a frutificação das espécies Miconia ciliata (Melastomataceae), Richeria sp. (Euphorbia-ceae), Solanum stramonifolium (Solanaceae) e Cecropia sp. (Urticaceae), todas sendo visitadas também por algumas das espécies de aves observadas nos indivíduos de M. prasina. O grande número de visitas de diferentes espécies indica que os frutos de M. prasina constituem um importante recurso alimentar para as aves no Parque Estadual Dois Irmãos. Muitas das aves observadas são comuns em áreas impactadas e podem ser capazes de se deslocar entre fragmentos de matas e transportar os diásporos entre essas áreas, tornando-se importantes vetores no processo de regeneração de ambientes degradados.
Conteúdo elaborado pelos biólogos Leonardo Barbosa da Silva, Ana Virgínia de Lima Leite e Cibele Cardoso de Castro. Universidade Federal Rural de Pernambuco.