As Ostras

O nome ostra é usado para vários grupos diferentes de moluscos, a maioria dos quais vive em habitats marinhos ou de água salobra. Algumas ostras são muito apreciadas como alimento, tanto crus como cozidas. Outras, como as ostras de pérolas, não são comumente consumidas. Vários outros moluscos bivalves também têm nomes que incluem a palavra "ostra", geralmente porque tem gosto ou aparência de ostras, ou porque produzem pérolas.
As ostras verdadeiras são moluscos bivalves pertencentes à família Ostreidade e à ordem Ostreoida. Desenvolvem-se em águas marinhas dentro de conchas de formatos irregulares e desiguais entre si, muito calcificadas e que se mantêm fechadas graças a um músculo adutor. Seu corpo é mole e constituído de boca, estômago, coração, intestino, rins, gônadas (órgãos sexuais), guelras, músculo adutor, ânus e manto.
As ostras fornecem habitat para uma vasta variedade de outras espécies de vida marinha. Centenas de animais, tais como as anêmonas, cracas e mexilhões unciformes utilizam os recifes de ostras como habitat. Muitos destes animais servem como alimento para animais maiores. As ostras podem ser encontradas em todos os mares do mundo, menos em águas muito frias e/ou poluídas. Seus principais predadores são os caranguejos, as aves marinhas, as estrelas do mar e os seres humanos.
Recifes de ostras são comunidades ecológicas tridimensionais sólidas, feitos de ostras densamente aglutinadas. Estes recifes se formam conforme as larvas das ostras se fixam nas ostras maiores no fundo da baía. Camadas de ostras crescem para cima e para fora, aumentando o tamanho do recife e criando superfícies duras sobre o fundo que fornecem habitat para inúmeras espécies aquáticas.
A ostra contribui para melhorar a qualidade da água pela sua filtragem. Para se alimentar, a ostra submersa se abre e suga a água, filtrando-a para retirar seus nutrientes: plâncton, algas e partículas alimentares em suspensão, que ficam presos ao muco da guelra e daí são transportados para a boca, onde são comidos, digeridos e depois expelidos. Quando a temperatura da água está acima de 10°C, a atividade alimentar aumenta e as ostras chegam a filtrar até cinco litros de água por hora cada uma.
Como os peixes, as ostras respiram utilizando guelras, mas também respiram pelo manto. O manto é permeado por pequenos vasos sanguíneos de paredes finas que extraem oxigênio da água e liberam o dióxido de carbono. Um pequeno coração de três câmaras, sob o músculo adutor, bombeia o sangue incolor com o seu suprimento de oxigénio para todas as partes do corpo. Ao mesmo tempo dois rins localizados na parte inferior do músculo purificam o sangue de quaisquer resíduos recolhidos.
Não há maneira de distinguir as ostras machos das fêmeas pelo exame das suas conchas. As gônadas ficam em volta dos órgãos digestivos. Embora as ostras tenham sexos separados, elas mudam de sexo uma ou mais vezes durante a sua vida. Durante seu primeiro ano, as ostras desovam no sexo masculino. Nos dois ou três anos seguintes, conforme crescem e desenvolvem uma maior reserva de energia, elas liberam óvulos, como as fêmeas. Normalmente estão prontas para desovar no final de junho. Um aumento na temperatura da água estimula a desova de algumas ostras, o que desencadeia uma "reação em cadeia" de desova, que turva a água com milhões de óvulos e espermatozóides. Uma única ostra fêmea pode produzir até 100 milhões de óvulos por ano.
Os óvulos são fertilizados na água e se transformam em larvas, que eventualmente encontram locais adequados para se fixarem, como uma outra ostra.
Muitas espécies de moluscos bivalves, inclusive ostras, parecem ser estimuladas a se assentarem na proximidade dos adultos de sua espécie. Como a ostra cresce de tamanho, sua concha também deve crescer. O manto é o órgão que origina a concha da ostra, usando os minerais dos alimentos. O material secretado pelo manto é chamado madrepérola ou nácar. A madrepérola alinha o
interior da concha.
A formação de uma pérola natural começa quando uma substância estranha (em geral um minúsculo parasita invasor) desliza para dentro da ostra, entre o manto e a concha, o que irrita o manto. A reação natural da ostra é cobrir esta irritação para se proteger. O manto cobre a irritação com camadas da mesma substância de madrepérola que é usada para criar a concha. Isto eventualmente forma uma pérola. Todos os tipos de ostras (na verdade, quase todos os moluscos com conchas) podem produzir pérolas, mas as que eventualmente se formam em ostras comestíveis são muito pouco atraentes e não têm nenhum valor no mercado. As verdadeiras ostras, pertencentes à família Ostreidae, são incapazes de fazer pérolas com qualidade para jóias, apesar da ideia oposta ser um equívoco comum, muitas vezes visto em ilustrações ou fotografias onde uma concha de ostra comestível é erradamente combinada com uma pérola com qualidade de jóia.
As ostras de pérolas são de uma família completamente diferente, a Pteriidae. Tanto as pérolas cultivadas como as naturais podem ser obtidas a partir destas ostras, apesar de outros moluscos, como os mexilhões de água doce, também produzirem pérolas de valor comercial. A maior ostra produtora de pérola é a Pinctada máxima de água salgada, que é aproximadamente do tamanho de um prato. Nem todas as ostras individuais produzem pérolas naturalmente. De fato, em uma redada de três toneladas de ostras, tem apenas cerca de três ou quatro ostras com pérolas perfeitas.
Curiosidades
-Cientistas descobriram no mar Vermelho fósseis de uma ostra gigante, batizada com o nome científico Tridacna costata, que chegou a representar mais de 80% do total desse tipo de animal na região e hoje constitui menos de 1% dessa fauna (foram encontradas apenas 6 delas em 1.000 ostras vivas investigadas). Dados disponíveis permitem concluir que o declínio da população da Tridacna costata foi consequência da sua exploração abusiva pelo ser humano pré-histórico.
"Durante uma janela de tempo, entre 140 mil e 110 mil anos atrás, o clima em geral era mais úmido, o que pode ter resultado em aumento da população na África. A mudança climática resultante pode então ter levado à dispersão humana ao longo da costa, onde moluscos marinhos de água rasa podem ter sido uma parte importante da dieta", comenta o cientista alemão Richter. Indícios fósseis de conchas de ostras mostram que, no período entre 110 mil e 90 mil anos atrás, o consumo desses moluscos facilitou a dispersão do ser humano anatomicamente moderno (Homo sapiens) da África para o mar Vermelho.
-Sergius Orata da República Romana é considerado o primeiro grande comerciante e cultivador de ostras há mais de 2000 anos. Usando seu considerável conhecimento de hidráulica, ele construiu um complexo sistema de cultivo, incluindo canais e eclusas para controlar as marés. Ficou famoso por isso e os romanos costumavam dizer que ele era tão bom que poderia criar ostras no telhado de sua casa.
-No início do século XIX, as ostras eram muito baratas e eram comidas principalmente pelas classes trabalhadoras. Ostras eram bastante populares em Nova York, durante meados e final do século 19. No entanto, o rápido crescimento das cidades levaram à diminuição das camas de ostras. Para aumentar a sua produção foram introduzidas variedades estrangeiras e isso logo trouxe doenças que, combinadas com a poluição e com o aumento da sedimentação, fizeram as ostras se tornarem raras. Esta situação tem se agravado mundialmente pela demanda sempre crescente de estoques de ostras selvagens. A escassez aumentou o seu preço e elevou as ostras ao status de iguaria.
-As ostras são consideradas afrodisíacas. Têm-se discutido se isso é verdade. A reputação erótica das ostras pode ser devida apenas à sua textura úmida e macia. Mas, também pode ser atribuída a sua alta concentração de zinco, mineral que auxilia na produção de testosterona.
-Madrepérola ou nácar é uma substância calcária, dura, brilhante, branca ou escura e iridescente produzida por diversos moluscos, especialmente os bivalves. A madrepélora reveste o interior de diversas conchas.
A madrepérola pode refletir frequências diferentes da luz de acordo com a maneira como é iluminada, de modo que pode apresentar cores variadas que vão dos rosas aos azuis, verdes e amarelos, em várias tonalidades. Também é liberada por alguns moluscos como uma reação a um corpo estranho que tenha entrado em sua membrana epitelial. É o principal componente das pérolas.

A Qualidade dos Peixes, Crustáceos e Moluscos da Baía de Todos Os Santos e Aratu
O maior número de indústrias no Recôncavo baiano está concentrado nos municípios de Simões Filho, Feira de Santana e Candeias, localizados a nordeste, noroeste e norte da BTS, respectivamente. As principais atividades industriais desenvolvidas são: químicas, petroquímicas, metalúrgicas, de produtos alimentícios e fertilizantes. Os produtos químicos utilizados por estas indústrias são diversos e incluem metais (Fe, Zn, Hg, Mn e Cu), ácidos minerais, sulfetos e sulfatos metálicos, óleos vegetais, petróleo e derivados, soda, naftaleno, benzeno, fenol,  polipropileno, cloro, hexano, óxidos, celulose, sisal, brita e amônia, dentre outros. O cenário atual do ambiente natural e as ocupações humanas no entorno da baía possuem gradientes físicos e sociais diferenciados, de acordo com as dificuldades de acesso e de infraestrutura disponíveis.
Além disso, derrames de petróleo e seus derivados através de acidentes ou de vazamentos operacionais, além da degradação da qualidade das águas por efluentes domésticos e industriais, e drenagens, dentre outros, contribuíram para agravar a situação dos diferentes ecossistemas da Baía de Todos os Santos com alterações na vida aquática, na composição química da atmosfera, na saúde humana e na qualidade de vida das populações ribeirinhas.
Entretanto, muito pouco foi até hoje estudado sobre a Baía de Todos os Santos. (Rev. Virtual Quim. |Vol 4| |No. 5| |583-610| / Da Rocha, G. O. et al.)
Dentre as inúmeras atividades industriais realizadas na área de estudo  podemos enfatizar a indústria petrolífera, que nos seu histórico possui um grande  poder poluidor e impactante, em diversas regiões de todo o planeta. É uma das mais  sérias causas que afeta as condições ambientais favoráveis nos oceanos, principalmente na região costeira e na plataforma continental (RODRIGUES, 2005).
As atividades antrópicas resultam em diversos resíduos sólidos, líquidos e  gasosos, sendo que as principais fontes de poluição de águas superficiais podem ser o lançamento de esgotos domésticos e industriais, descarga de águas pluviais,  deposição direta de detritos, água de escoamento superficial e infiltração (LEITE, 1994).
 É recomendável consumir com moderação os peixes e frutos do mar apanhados em Aratu, Itapagi, Suba e em outras áreas mais industrializadas da baía de Todos os Santos. Eles estão contaminados. Concentram alguns metais em níveis superiores aos aceitos por autoridades da saúde como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Muitos desses metais são elementos químicos que, em concentrações bem baixas, são essenciais para uma boa saúde, mas, em níveis altos, podem ser tóxicos. Comer os pescados e os moluscos de áreas contaminadas algumas vezes na semana não chega a causar risco à saúde, afirmam os pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que, sob a coordenação de Andrade, vêm mapeando nos últimos anos a poluição ambiental na baía de Todos os Santos. Mas os pescadores e os catadores de mariscos, que consomem frutos do mar quase todos os dias, tornam-se mais vulneráveis a desenvolver problemas de saúde associados à exposição contínua a elevadas concentrações de alguns desses metais
Entre 2006 e 2010, Vanessa, o oceanógrafo Manuel Nogueira de Souza e Cláudia Windmöller, da Universidade Federal de Minas Gerais, coletaram moluscos em 34 pontos da baía de Todos os Santos. A análise química demonstrou que ao menos quatro elementos (arsênio, zinco, selênio e cobre) aparecem em concentrações relativamente altas em mariscos e ostras. Os moluscos mais contaminados, segundo artigo publicado em 2011 no Marine Pollution Bulletin, haviam sido apanhados em Aratu, próximo ao local em que as marisqueiras trabalhavam naquela manhã de outubro, e no estuário do rio Subaé, a noroeste dali.
Era até de se esperar que fosse assim. A baía de Aratu, localizada cerca de 20 quilômetros ao norte de Salvador, abriga um dos três portos mais movimentados da baía de Todos os Santos. Aratu está cercada por indústrias químicas, petroquímicas, metalúrgicas e de alimentos, entre outras.  A menos de 50 quilômetros a nordeste dela, está instalado o polo petroquímico de Camaçari, o maior da América do Sul. Já no estuário do rio Subaé, no extremo noroeste da baía de Todos os Santos, a principal fonte de contaminantes foi por um longo período a mineradora Plumbum. Desativada em 1993, ela lançou por quase três décadas quantidades apreciáveis de chumbo, cádmio, arsênio e zinco no Subaé. (A Saúde da Baía - Revista Pesquisa FAPESP).
Todo cuidado é pouco para aqueles que se alimentam de peixes, crustáceos e moluscos extraídos da Baía de todos os santos, pois o índice de contaminação é muito alto devido ao movimento portuário de Aratu e de despejos de esgotos urbanos nos mares como também nos rios, provocando uma alta contaminação desses seres marinhos e que acabam parando em nossas mesas, sendo que muitas pessoas exageram no consumo e acabam contraindo uma série de doenças de vários tipos, inclusive o câncer.
A foto acima se transformou no retrato da tragédia ocorrida em Minamata, no Japão, a partir de 1950. Tudo começou com o aparecimento dos primeiros peixes mortos no mar, e daí por diante centenas de pessoas adoeceram com problemas no sistema nervoso. Batizaram a doença como “mal de Minamata”. Acreditavam se tratar de uma epidemia infectocontagiosa, casas foram desinfetadas, porém a doença não parou de fazer suas vítimas, chegando a milhares. O nascimento de crianças defeituosas completava o triste quadro da vila de pescadores.
Somente em 1968 a verdadeira causa veio à tona, se tratava do composto cloreto de etil-mercúrio (C2H5HgCl). Esse composto organometálico era proveniente de uma Indústria influente na região, que empregava boa parte dos moradores. A referida Indústria, até então respeitada, lançava poluentes nas águas que banhavam a baía de Minamata. Os resíduos tóxicos surgiam da fabricação de Cloreto de Vinila, o processo se dava na presença dos catalisadores sulfato e cloreto de mercúrio.
Como os habitantes de Minamata se alimentavam da pesca, não fica difícil deduzir como tantas pessoas ficaram contaminadas. O mercúrio é altamente tóxico e se acumula nos tecidos animais (peixes e moluscos). O metal pesado percorre então a cadeia alimentar, passando do organismo das presas para o dos predadores.
A divulgação mundial do trágico acidente biológico se deu a partir de 1972, quando o fotógrafo americano W. Eugene Smith fez a foto da menina Tomoko Uemura. Tomoko tinha pernas e braços deformados e os sentidos comprometidos: era cega, surda e muda, e faleceu cinco anos depois da divulgação, em 1977.
Somente em 1997 os últimos prejudicados pela tragédia de Minamata foram habilitados a receber indenizações.
Por Líria Alves
Graduada em Química
Equipe Brasil Escola
Sobre As Ostras e Os Cuidados
A ostra é perigosa por ser considerada um filtro no mar. “Ela filtra em torno de quatro a seis litros de água por hora e todas as impurezas das águas ficam retidas nos sifões. Se tiver microalgas, bactérias, vírus, tudo é retido nos sifões”, diz a pesquisadora Regine Vieira. Especialistas pedem para que as pessoas evitem comprar ostras cruas em mercados abertos, em que não são conservadas de forma adequada. Para não correr riscos, a recomendação é comer as ostras sempre cozidas. (acheiusa.com)


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